ROTA DAS COLHEITAS 2019 – Oriz S. Miguel regressou ao passado com desfolhada, malhada e broa de milho tradicional
Atualizado em 20/10/2019O dia 19 de outubro, começou chuvoso, mas o ânimo da freguesia de Oriz S. Miguel com a aproximação de mais uma DESFOLHADA E MALHADA DE MILHO fez São Pedro mudar de ideias e a recriação decorreu sem chuva. A meio da tarde, as broas começaram a sair do forno de lenha, tornando a iniciativa um verdadeiro hino ao ciclo do milho. Tudo à moda antiga e em contexto real, numa casa de campo na Quinta do Gama. O evento foi organizado pela ACRD de Oriz S. Miguel, inserido na programação turístico-cultural Na Rota das Colheitas, do Município de Vila Verde.
Logo à entrada, era impossível não reparar nas canas de milho expostas ao alto e perfiladas como um exército. No entanto, os orizenses não temeram, colocaram mãos à obra e o numeroso ‘inimigo’ saiu derrotado da ‘batalha’. As espigas foram desfolhadas à moda antiga, com a força de braços, e a vereadora da Cultura do Município de Vila Verde, Júlia Fernandes, também se juntou aos trabalhadores. “Eu aproveito sempre para reviver estas atividades, que me permitem fazer uma viagem pelas memórias de infância e adolescência”, explicou.
Terminada a desfolhada, chegou a hora da segunda investida. Munidos de malhos de madeira, os participantes começaram a bater violentamente nas espigas para soltar o grão. Depois, o milho foi apanhado e limpo nos crivos, tal como mandam os costumes minhotos. As atividades decorreram em ambiente de festa, animadas pelo som das concertinas. No final, Júlia Fernandes enalteceu a qualidade da recriação orizense. “É um verdadeiro hino ao mundo rural, uma autêntica jornada de tradição e Oriz S. Miguel está de parabéns”, elogiou.
Broa de milho considerada “um dos melhores pães do mundo”
Enquanto a maioria dos participantes desfolhava, um grupo de mulheres confecionava a broa de milho tradicional, que “foi destacada pela CNN como um dos melhores pães do mundo e aqui faz-se jus a esse reconhecimento”, frisou o presidente do Município de Vila Verde, António Vilela. O autarca destacou ainda a importância de preservar as tradições do concelho e teceu elogios à freguesia de Oriz S. Miguel que “sempre respondeu muito bem a este desafio e criou aqui momentos únicos”.
Maria Henriqueta comandava as ‘tropas’ na cozinha, onde a broa caseira cozia em forno de lenha. Mestre nesta arte, partilhou uma receita que conhece desde os 11 anos de idade. “No dia anterior, prepara-se o fermento. No próprio dia, é preciso peneirar a farinha. Junta-se água quente e fermento, e amassa-se tudo muito bem. Depois fica a levedar, antes de ir ao forno”, explicou. Uma hora depois, saíram do forno de lenha mais de dez broas de milho, às quais se juntou também uma merenda tradicional (sopas de cavalo cansado, pataniscas, sardinhas, tacos de bacalhau…) para ajudar a fortalecer o corpo e o espírito após a jornada de trabalho.
A tradição continua viva
Alice Rodrigues estava entre a plateia. A vida profissional afastou-a da terra natal, mas regressa a Oriz S. Miguel sempre que pode e não escondeu o orgulho nas origens. “Para mim, esta iniciativa é muito linda, são as minhas raízes. É muito importante manter esta tradição. Oriz S. Miguel tem uma população pequena, mas com vontade de manter os costumes, como se pode ver pela presença de muitas crianças e jovens”, afirmou.
Por sua vez, o presidente da ACRD de Oriz S. Miguel, Mário Fernandes, frisou a vontade de manter viva a tradição. “O processo agora é muito mais industrializado, mas Oriz S. Miguel faz um esforço para apresentar esta iniciativa da maneira mais tradicional possível, incutindo aos jovens esta tradição, ao mesmo tempo que reavivamos memórias dos mais velhos”, afirmou, sem esconder a nostalgia. “Eu vivi muito isto e é sempre muito bom, muito bonito, poder regressar a essas memórias”, referiu Mário Fernandes, acrescentando que a iniciativa pretende também “divulgar o concelho e a região do Vale do Homem”.
Município de Vila Verde, 20.10.2019
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