Já ouviram falar de fotografia estenopeica, ou pinhole? O fotógrafo António Campos Leal dedica-se a esta técnica fotográfica desde finais dos anos 70 do século passado.
A exposição “Um livro na parede – luz nos livros”, que está patente ao público na Biblioteca Municipal Prof. Machado Vilela, até 28 de fevereiro, “assenta na leitura do trajecto feito pela Luz no interior da Biblioteca/Arquivo de José Pacheco Pereira, na Vila da Marmeleira” e foi inicialmente apresentada no Festival Instantes, tendo, entretanto, resultado na publicação de um livro da coleção Ephemera, com a chancela da Tinta-da-China. Mas porquê utilizar a fotografia estenopeica para retratar aquilo que o autor designa como “a luz do pensamento”, retratada na relação com a luz que incide nos elementos que constituem uma biblioteca, como livros, papéis, mesas, cadeiras…? Diz-nos António Campos Leal que, à representação desse diálogo, havia que acrescentar a representação do tempo, campo ideal para a aplicação desta técnica, que obriga a exposições muito longas, permitindo marcar o “percurso do tempo” – de tal forma que, na fotografia de um relógio em que a exposição do papel à luz levou seis horas, torna-se impossível ver os ponteiros em movimento. Diz-nos ainda o autor: “Por vezes vê-se o pó, mas não é o pó essa mesma representação do tempo? Noutras situações, imagens quase como fantasmas replicam de forma menos intensa a representação do original. Há um agitar dos elementos representados. Uma portada de janela que alguém abriu ou fechou. Um deslocar da câmara devido a uma corrente de ar mais intensa.”
Só pela beleza, pela intemporalidade, pela ligeiríssima agitação, quase insensível, como o tempo passando devagar, destas palavras, já apetece, mesmo sem nunca ter ouvido falar, visitar esta exposição.
“Falar de Pinhole (do Inglês buraco da agulha) é falar dos primórdios da fotografia. Falar de pinhole é falar das primeiras máquinas fotográficas. Uma caixa com um pequeno orifício que recebe luz através desse mesmo orifício projetando na face oposta e registando em papel fotográfico sensível à luz, a respetiva imagem. Na prática é uma câmara escura em miniatura. Pode ser uma caixa de qualquer formato, qualquer tamanho. Desde uma caixa de sapatos até um simples caixa de fósforos. Tudo é possível.
De todas as tentativas de fixar imagens, podemos considerar as experiências realizadas pelo Chinês Mo_ti e que remontam a 400 A.C. como a primeira estrutura com um conceito de câmara escura. Séculos mais tarde, e apenas em 1620, Kepler inventa o que será a primeira câmara escura portátil. Passando por uma fase em que o invento de Kepler era usado pelos pintores da altura (sec. XVII) para fazerem os seus quadros, só em 1826, com Niepce é que nasce a primeira fotografia permanente, a primeira imagem pinhole que existe. Foi o início de uma era de fotografia que ainda não acabou, e que se mantêm tão actual como na altura. Muitos fotógrafos continuam a trabalhar usando estas mesmas técnicas e processos de fotografar.”
Fotografar em pinhole é conhecer pequenos detalhes, conseguir dominar o ato de fotografar. É um processo que desafia os nossos conhecimentos fotográficos através de longas exposições, profundidade de campo, falta de nitidez e de resolução.
(https://www.wearefragma.com/photographynotes/pinhole-um-pouco-de-histria)