“DESPORTO NO FEMININO” dinamizado por quatro campeãs Aurora Cunha, Lucélia Graça, Sara Brasil e Catarina Gomes
Updated on 01/04/2016Aurora Cunha foi a principal oradora do colóquio “Desporto no Feminino”, que se realizou esta noite , 1 de abril, no Salão Nobre dos Paços do concelho de Vila Verde. Esta campeã mundial esteve acompanhada por mais três atletas Lucélia Graça, campeã do Clube Náutico de Prado, Sara Brasil e Catarina Gomes, da Equipa Feminina do Vilaverdense FC, campeãs Nacionais.
Tendo como principal oradora a antiga glória do atletismo nacional, Aurora Cunha, a iniciativa encerrou um ciclo de debates sobre o Desporto e o Associativismo em Vila Verde, no âmbito de uma parceria enquadrada no Programa Regional de Atividade Desportiva, que teve início no passado dia 5 de fevereiro.
A sessão de abertura desta iniciativa sob o tema “Desporto no Feminino” foi presidida pelo Vereador do Desporto do Município de Vila Verde, Dr. Patrício Araújo, onde deu as boas vindas às oradores e aos participantes deste evento, dedicado especialmente às mulheres.
A sessão de abertura contou, também, com a participação do Inácio Anjos, técnico do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), onde lembrou que a população portuguesa está na cauda do sedentarismo com 64% de pessoas que não praticam qualquer tipo de desporto, sendo que apenas 7% são femininas. Na sua intervenção Inácio Anjos, do IPDJ, lançou ainda alguns números sobre a participação das mulheres no desporto. No dirigismo, dos 1474 dirigentes que existem no país, apenas 13% são mulheres e apenas três federações nacionais tem senhoras na presidência. Nos treinadores e árbitros os números aumenta, mas nunca chegam aos 25%. O técnico do IPDJ lembrou ainda que o desporto feminino sente mais dificuldades no acesso ao material desportivo em relação aos homens.
Sara Brasil e Catarina Gomes lamentaram a falta de apoios a nível de patrocinadores e de público. As duas atletas, naturais de Felgueiras, dizem que andam no futebol «movidas pela paixão».
Lucélia Graça diz que não sente discriminação dentro da modalidade. A atleta lamentou apenas a falta de visibilidade que a canoagem tem nos órgãos de comunicação social nacionais.
Aurora Cunha começou por contar a história da sua vida desde que começou a despontar para o atletismo na aldeia de Ronfe. Aurora Cunho disse que surgiu no atletismo por brincadeira, descoberta por um amigo serralheiro da empresa onde trabalhava. Ganhou uma corrida de rua na sua terra e em 1976 foi a Lisboa onde se sagrou campeão de Portugal nos 1.500 e 3.000 metros, com umas sapatilhas recheadas com jornais devido a ter corrido com umas sapatilhas com o número 37 quando calçava 36. A partir daí a história de Aurora Cunha é bastante conhecida.
O evento, com entrada livre, visou debater, entre outros temas, o acesso da mulher à prática desportiva amadora e à atividade física, bem como as condições e vicissitudes que podem influenciar uma carreira desportiva de alto rendimento.
Como conclusões ficou claro que a visão e participação feminina no desporto e o acesso à educação física é uma história feita de avanços e recuos, pontuada por discriminações, mudanças de mentalidade e conquistas sociais. Na verdade, até meados do século passado, a participação feminina em eventos desportivos era severamente marginalizada e discriminada. Foi muitas vezes encarada apenas do ponto de vista do entretenimento estético, dando-se particular atenção à postura corporal e à beleza feminina e remetendo-se para um segundo plano, quer as capacidades, quer a destreza atlética.
Até mesmo nas competições desportivas mais importantes ao nível mundial, como é o caso dos Jogos Olímpicos, constituem um bom reflexo desta evolução cultural e social no acesso e na discriminação negativa do género feminino face ao desporto. As mulheres, apesar de já participarem em competições desportivas desde finais do Séc. XVIII, apenas nos Jogos Olímpicos de Londres, realizados em 2012, é que se fizeram representar em todas as modalidades do programa olímpico.
Com este Colóquio “Desporto no feminino” analisou-se e discutiu-se, de forma crítica e integrada, a história deste percurso sob as suas múltiplas dimensões e abordagens, com especial incidência nas questões sociais, culturais, éticas, organizativas, mediáticas, médicas e de género. O encontro constituiu, uma vez mais, um espaço de partilha e de debate, procurando estimular e aprofundar as dificuldades e virtudes do Desporto Feminino.