Contra “mais uma” linha de muita alta tensão no concelho
Updated on 23/05/2023A Câmara Municipal de Vila Verde, as juntas e populações das uniões de freguesias da Ribeira do Neiva e do Vade estão unidas na contestação à construção de “mais uma linha de muita alta tensão” no concelho.
Responsáveis autárquicos e populares queixam-se de uma autêntica “cerca elétrica” que vai ficar instalada no território pela REN – Redes Energéticas Nacionais, com impacto negativo sobre a paisagem natural e o património arqueológico e arquitetónico.
Em causa está o projeto de execução de uma linha elétrica de 400KV que fará a ligação à fronteira com Espanha, em Fontefria, abrangendo ainda os concelhos de Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Monção. No concelho de Vila Verde, este troço passa nas uniões de freguesias da Ribeira do Neiva e do Vade. Para onde estão previstos 23 “torres” – como designam os postes.
“Isto é mais um atentado contra estes territórios que já lutam com tantas dificuldades contra a desertificação”, lamentou o presidente da Junta José Azevedo, numa conferência de imprensa que acabou por acolher dezenas de populares na sede da União das Freguesias da Ribeira do Neiva.
A presidente da Câmara, Júlia Rodrigues Fernandes, esteve também presente na iniciativa, onde esclareceu a posição do Município num processo em que a autarquia se manifestou sempre contra a “invasão” de mais uma parte importante do património do concelho.
Esta nova “autoestrada elétrica” acresce a uma outra que já atravessa de sul a norte todo o concelho e que deixa a Ribeira do Neiva encurralada entre as duas linhas de muita alta tensão.
Ao longo deste processo, o Município já conseguiu eliminar algumas propostas que seriam “ainda mais invasivas e com impacto extremamente negativo”, mas mantêm-se muitas razões de queixa, devido ao impacto violento das estruturas a montar.
Este último traçado afeta sobretudo áreas florestais e património histórico, atingindo uma zona de relevo acentuado, nomeadamente “atravessando todo o Monte do Oural de nordeste para sudoeste, junto ao marco geodésico ali existente”. Ameaça ainda uma zona de carvalhais, locais de património arqueológico e a Capela de Santo António de Cháscua.
A posição do Município sobre o traçado da nova linha de muita alta tensão esteve em apreciação na reunião do executivo camarário, onde o vereador do ambiente, Patrício Araújo, sustentou o parecer desfavorável assumido pela autarquia. No entanto, reconheceu as dificuldades para travar um projeto apresentado com interesse estratégico nacional.
O autarca esclareceu que o Município nunca recebeu qualquer contrapartida financeira por estas infraestruturas elétricas.
“Não se pode prejudicar sempre os mesmos, sem a correspondente compensação. Se existe um benefício nacional na construção destas infraestruturas, deverá também uma parte desse benefício reverter para um mecanismo de compensação que se traduza num investimento direto para os locais mais afetados”, defendeu Patrício Araújo, numa exposição ratificada por unanimidade em reunião de Câmara.
O Município propõe a existência de “uma verba dentro do projeto de execução (expresso percentualmente) de modo a ser canalizado para a melhoria de infraestruturas nas freguesias diretamente afetadas. Posteriormente, após a construção e entrada em vigor da exploração de cada rede, deve uma parte do benefício daí resultante, ser aplicada em projetos de sustentabilidade ou associados à melhoria das condições de vida nos territórios atravessados por essa mesma rede”.