COMEMORAÇÃO DO 25 DE ABRIL 2021 – Discurso da Bancada Parlamentar do PSD da Assembleia Municipal de Vila Verde
Updated on 25/04/2021Foi há 47 anos que um grupo de militares portugueses desafiou o seu e o nosso destino encetando o golpe de Estado que mudou o país para sempre, pondo término a quase meio século de um Portugal dominado sob o jugo da ditadura e abrindo caminho ao Portugal democrático e livre que hoje conhecemos.
Apesar dos tumultuosos anos que lhe seguiram, esta revolução ficou, surpreendentemente, para a história como uma das mais pacíficas, marcada pela quase completa ausência de circunstâncias trágicas, sem mortos nem derramamento de sangue, cujas imagens de plena comunhão e confraternização entre os militares de abril e o povo, que saiu à rua para os saudar e festejar o triunfo da revolução, tão bem ilustram.
A nossa democracia, durante quase meio século de história, conheceu distintos períodos no seu percurso, bem demarcados uns dos outros e que contribuíram, de forma sequencial, para o Portugal que, hoje, conhecemos: Após o biénio revolucionário (1974-1975) dominado pela agitação social própria de um país em mudança, fortemente marcado pelo turbulento “verão quente de 75” e que culminou na viragem de Portugal ao centro, após o desmantelamento, a 25 de novembro, da “deriva comunista” que se quis impor ao país, seguiu-se uma década de consolidação e estabilização da democracia (1976-1986), período, após o qual, o país se abriu à Europa e nós, portugueses, passamos a ser, orgulhosamente, também, cidadãos europeus.
Como povo, não somos, hoje, muito diferentes do que éramos em abril de 74. Caracterizam-nos a mesma “generosidade, o desleixo… um espírito prático, sempre atento à realidade útil. A viveza… A esperança constante nalgum milagre que sanará todas as dificuldades… a vaidade, o gosto … de luzir, e uma simplicidade tão grande, que dá na rua o braço a um mendigo… Um fundo de melancolia. A desconfiança terrível de si mesmo, que … acobarda, … encolhe, até que um dia se decide, e aparece um herói, que tudo arrasa” (A Ilustre Casa de Ramires, Eça de Queirós). Somos, porém, muito diferentes enquanto país. Abril deu-nos a liberdade e, com isso, abriu caminho para seguirmos um percurso rumo a melhores condições de vida e mais equidade social, no acesso à saúde, à educação, ao emprego, permitindo que todos, independentemente das condições do berço, tivessem oportunidade de lutar por uma vida melhor. Abril trouxe-nos um Estado mais social e equitativo, consolidando o direito a uma pensão e demais apoios sociais importantes na luta contra a pobreza. Abril abriu-nos as portas para “lançar as bases de um verdadeiro Serviço Nacional de Saúde”. O mesmo SNS que, hoje, com as suas virtudes e defeitos, se revelou um instrumento fundamental para combater as ameaças que a pandemia por Covid-19 trouxe à Saúde Pública.
Temos que reconhecer que, atualmente, convivemos com circunstâncias que, potencialmente, comprometem a saúde da nossa democracia. Temos, por isso, que lutar por ela, sarando-lhe as feridas que a ameaçam. Precisamos de direcionar os nossos recursos para aquilo que interessa ao país, sabendo que apostar na Educação e na Saúde deverá ser sempre visto como um investimento, cujos frutos se colhem no dia de amanhã. Precisamos de um setor de Justiça mais célere e mais confiável e de pugnar por uma Justiça que se quer cega, desapegada de interesses e clientelismos. Vivemos num país com um sistema burocrático pesado que tolhe e desincentiva o investimento e atrasa os serviços do Estado que, ainda, carecem de eficiência. Somos um país seguro, mas precisamos de acarinhar e dignificar as nossas forças de segurança, não esquecendo os veteranos de guerra que serviram o país, arriscando a vida. Precisamos de confiar mais na classe política; como em qualquer setor da sociedade, temos os bons e temos os maus, mas precisamos de mais políticos despojados de interesses pessoais e mais apostados em servir a causa pública.
Pergunto-me se, hoje, faz sentido lembrar abril! Faz, sim! São mais de 5 milhões os portugueses que, como eu, nasceram num Portugal democrático, livre e aberto à Europa e ao mundo. São mais de metade os portugueses que não viveram esse período revolucionário, nem conheceram um Portugal sob o jugo da ditadura, da censura, da PIDE, do Tarrafal, da Guerra Colonial. A todos, mas sobretudo, a estes portugueses, faz cada vez mais sentido lembrar a noite em que Portugal desertou das sombras e conheceu o dia, como Sofia de Mello Breyner tão bem eternizou: “Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio”.
Há um Portugal antes e depois de abril de 74. Mantenhamos vivo o espírito do 25 de abril. Viva Portugal! Viva a democracia!
Por Luís Sousa
Deputado Municipal do PSD na Assembleia Municipal de Vila Verde
Município de Vila Verde, 25.4.2021