CASA DO CONHECIMENTO – Encerramento do Projeto “Ecos de Fernando Pessoa” deu a conhecer o escritor como pessoa e não como poeta
Atualizado em 31/10/2020A Escola Profissional Amar Terra Verde acolheu, no dia 30 de outubro, a última sessão do projeto “Ecos de Fernando Pessoa”, intitulada “Que hei-de fazer com esta espada? Profissão, Sonho e Sobrevivência em Fernando Pessoa” de autoria da Doutora Manuela Barreto Nunes, Coordenadora das Bibliotecas Municipais de Vila Verde.
Esta é uma iniciativa da Casa do Conhecimento de Vila Verde e da Biblioteca Professor Machado Vilela, no âmbito de outubro como Mês Internacional das Bibliotecas Escolares, em parceria com a Escola Secundária de Vila Verde e com a Escola Profissional Amar Terra Verde.
Na sessão os alunos assistiram à apresentação em contexto de sala de aula, com um momento para debate e questões.
A sessão contou com a participação da Diretora Pedagógica da EPATV, Dr.a Sandra Monteiro, do Coordenador da Casa do Conhecimento de Vila Verde, Eng. José Ismael Graça e da Vereadora da Educação, Cultura e Ação Social, Dr.a Júlia Fernandes.
As boas-vindas foram dadas pela Dr.a Sandra Monteiro que se congratulou por receber e participar neste projeto que constitui uma mais-valia para os alunos. De seguida, a Vereadora da Educação, felicitou tão diferenciadora iniciativa em torno de Fernando Pessoa, grande figura da literatura portuguesa e que consta no programa escolar e que as duas ações deste projeto são um contributo para ajudar a desvendar os mistérios em torno do poeta, procurando torná-lo mais próximo.
De forma entusiasta e contagiante, Manuela Barreto Nunes deu a conhecer Fernando Pessoa como pessoa e não como poeta. Foi mostrada a vida de um homem com características muito diferenciadas que influenciaram a escolha do seu modo de vida. Foi dado a conhecer Fernando Pessoa como empreendedor, fundador de duas empresas sem sucesso; como inventor criando uma pasta para papéis do género “portefólio”, um jogo de futebol de mesa ou “matraquilhos” na sua designação mais comum, um carreto para uma máquina de escrever e os famosos aerogramas, correspondência de correio aéreo, caracterizada por uma carta sem envelope que se fechava sobre si mesma e extremamente leve; como publicitário, chegando a criar um anúncio para a Coca-Cola, com o slogan “Primeiro estranha-se. Depois entranha-se” , cuja comercialização foi entretanto proibida pelo Estado Novo. Foi apresentado um Pessoa para quem a “vida era uma criação e tudo o resto era pretexto para criar”.
Em nota da sua apresentação Manuela Barreto Nunes, deixa as seguintes palavras:
“Imaginem um poeta que, em vida, apenas publicou um livro, para além de poemas dispersos por várias revistas literárias. Imaginem que, após a sua morte, poemas e mais poemas dos seus vários heterónimos foram sendo descobertos, e publicados por um punhado restrito de admiradores, que não cessavam de se espantar com a genialidade do escritor morto tão precocemente. Imaginem agora que, lá por casa, havia um baú cheio de papéis que, com o resto do espólio, foi entregue à Biblioteca Nacional e que esses papéis por lá foram ficando, catalogados, mas obscuros. Imaginem finalmente que os mesmos papéis, cerca de 30.000, só nos últimos 20 anos (pouco mais do que o tempo das vossas vidas) foram devidamente explorados e trabalhados por investigadores minuciosos.
Interessarão, esses papéis? Serão recibos velhos, bilhetes de autocarro, documentos sem valor? Ou desvendarão uma parte desconhecida da vida do poeta?
Pois, na verdade, esse baú e esses papéis têm revelado ao mundo que o génio de Fernando Pessoa em muito ultrapassou a criação de um universo literário onde convivem heterónimos concebidos como pessoas que realmente tivessem existido, com biografias próprias e até discussões entre eles; e que, mais do que um empregado de escritório com um trabalho subalterno que lhe permitia pagar as contas, o Poeta tinha um elevado sentido prático, inventava artefactos da mesma maneira que produzia incessantemente poesia, tinha jeitos de engenheiro e talento de empreendedor cheio de sonhos, criador de empresas que lhe permitiam expandir sempre mais e mais o seu universo. Sobretudo, Fernando Pessoa escolheu um tipo de trabalho (“correspondente estrangeiro em casas comerciais”, como deixou escrito num Curriculum Vitae que datilografou pouco antes de morrer) que lhe deixava liberdade para criar e cumprir-se naquilo que era a sua vocação maior: a Poesia como um mundo dentro do mundo em que vivemos, um permanente questionamento da existência e da identidade, da busca pela compreensão da verdade dentro do ser humano.
É sobre esse outro lado de Pessoa, o empreendedor, o sonhador pragmático, o inventor de artefactos que facilitassem o desempenho do seu trabalho, incansável na busca de um modo de vida que lhe permitisse liberdade para criar, que esta palestra incide. Se “(…) o homem sonha, a obra nasce”, é talvez a lição que podemos tirar desta faceta do poeta, um homem que, sonhando, não se escusou a agir no mundo.”
A sessão terminou com a intervenção do Eng José Ismael Graça que reforçou a importância da parceria entre a Casa do Conhecimento de Vila Verde e a Biblioteca Professor Machado Vilela, ambos serviços do Município que procuram enfatizar o conhecimento e o acesso à informação.
Deixou um agradecimento especial às duas escolas que acolheram com satisfação este projeto e disponibilizaram as suas infraestruturas para a realização da mesma.
Foi mais uma participação da Casa do Conhecimento e da Biblioteca Municipal nas escolas!
Município de Vila Verde, 31.10.2020