Rota das Colheitas: em Aboim da Nóbrega a eira de David Martinga encheu-se de centeio para uma malhada à moda antiga!
Atualizado em 13/08/2018A Rota das Colheitas continua e chegou a vez de mostrar as habilidades de uma das mais emblemáticas práticas agrícolas do passado. A freguesia de Aboim da Nóbrega recuou aos tempos antigos e festejou a verdadeira tradição com uma malhada de centeio no passado sábado, 11 de agosto. Eram cinco da tarde e o calor não dava descanso. A eira de David Martinga, repleta de pessoas das mais variadas idades, foi uma vez mais escolhida para reavivar memórias.
O povo aguardava, ansiosamente, que os homens arregaçassem as mangas e metessem as mãos ao trabalho. Durante aproximadamente uma hora, os malhos de madeira ganharam protagonismo embatendo violentamente contra o centeio e as vassouras tradicionais, entregues às mulheres, apanhavam as múltiplas sementes soltas. Os cheiros singulares, os sons potentes e as vestimentas típicas da altura foram também cruciais transportar o público para o passado. E foi o que aconteceu, já que os espectadores não se limitaram a assistir. Muitos fizeram questão de arregaçar as mangas e ajudaram a recriar esta prática agrícola ancestral.
O suor do trabalho duro e exigente era combatido com vinho verde bem fresco que serviu, tal como à moda antiga, para refrescar e dar força para continuar a ‘lutar’ pela vida do campo. Para recuperar forças, nada melhor que uma merenda tipicamente minhota. Comida e bebida à descrição com pataniscas, broa caseira, presunto e vinho verde, entre outros.
“Antigamente, era toda a semana!”
Carlos Alves, malheiro já na casa dos sessenta, puxa a cassete para trás e conta que quando era criança já sabia pegar no malho: “Fazia isto tinha eu uns 10, 11 anos. Eram tantas as vezes que eu ia para o campo malhar…”. “Antigamente, era toda a semana! Começava-se segunda e só acabávamos no sábado… e a gente aguentava, agora dá meia dúzia de caminhos e já fica estourado”, recorda nostalgicamente o trabalhador. De forma muito sincera, Carlos Alves concluiu que tudo o que se passa “é só mesmo para manter a tradição, para tentar segurar, mas na verdade um dia vai acabar”.
Uma tradição para manter
Como não poderia deixar de ser, o Presidente da Junta também participou da iniciativa e, muito satisfeito, diz ter sido uma tarde bem passada, cuja tradição “correu dentro da normalidade…ao longos dos anos, nota-se uma excelente evolução desta atividade e espero que assim continue!”. João Rodrigues Fernandes conclui sublinhando ainda a importância de reviver a história: “Eu não quero de forma alguma que a tradição acabe, há aqui uma forte necessidade de mostrar aos mais novos o prestígio e o respeito que há por tudo isto”.
JUNTOS FAZEMOS VILA VERDE!