Entrevista a João Gago, vencedor da 10ª edição da Bienal Internacional de Arte Jovem de Vila Verde
Atualizado em 09/07/2018O que o levou a concorrer à Bienal Internacional de Arte Jovem de Vila Verde?
– Algo semelhante ao que me conduz desde o início do meu percurso artístico, refiro-me ao despoletar de uma necessidade de confrontação do meu trabalho com uma esfera mais alargada, um público.
Compreendi que este registo não se tratava apenas de ler o meu trabalho partindo de associações pessoais (não só minhas como exteriores) ou na relação com espécies de arquétipos, mas sim um veículo de contacto com as minhas mais profundas aspirações.
O que o inspirou a realizar esta obra?
-No campo da psique, o fogo surge como elemento que se desmaterializa, purifica, tornando-se espírito. A ação é tida como um ritual excessivo de transgressão, frequentemente infetada por uma dúvida fundamental.
Esta ação/atuação move-se quase sempre fora da linguagem, pelo menos fora do discurso e da linguagem tal como são formalmente usados. De certa forma, o livre acesso à ação liberta o corpo do conflito.
Não se trata de reduzir uma determinada atividade artística a uma dimensão unívoca, mas sim prolongar e ultrapassar um quadro estrutural físico, integrando o acaso, o imprevisto e o aleatório.
Interessa-me o debruçar sobre a temática corporalizada potencialmente caótica e ameaçadora para o eu racional.
A obra poderá ser vista não apenas como um objeto, mas como parte de um acontecimento, exibindo um corpo físico virtual. O respetivo processo é transformador, um fenómeno ígneo. Não uma perda de matéria, mas antes uma mudança de um estado de existência.
Ao incendiar algumas pinturas, como o caso da obra em questão, o resultado deste elemento ritualista sugere impermanência e não-fixidez. Na verdade, se as cinzas simbolizam mortalidade, insinuam também um renascimento violento. Uma contradição nos termos ausência e presença.
Ao mesmo tempo a obra é propulsionada por uma outra espécie de energia, articulada numa série de tentativas em busca de uma clareza interior.
O trabalho é anárquico e esses momentos não podem ser especificados em determinado momento no tempo. Contudo reiteram de forma cíclica uma evolução intuitiva, propondo “um novo ponto de partida”.
Qual o sentimento de ganhar a Bienal Internacional de Arte Jovem de Vila Verde?
-Um misto de emoções que estou ainda a tentar digerir. Talvez mais adiante possa discernir melhor sobre o facto. Para já, confesso tentar desviar a mente das fórmulas para os factos e fruir o momento. Para além de gostar de chegar a novos capítulos, é sempre bom recapitular.
Que importância é que acha que este tipo de iniciativas tem para jovens artistas?
-Uma exposição como a Bienal Internacional de Arte Jovem de Vila Verde, ambicionará auto constituir-se como um espaço para interrogações do presente e do futuro. O facto de acontecer em Portugal, num município como o de Vila Verde, é também um exemplo de uma assinalável autonomia. Será não só um desafio a todos os jovens artistas elencados que apontam o lugar da arte na sociedade atual, mas também à própria instituição e ao seu futuro dentro das democracias contemporâneas.
O envolvimento do artista para com este tipo de meios profissionais não é apenas uma extensão coerente do seu trabalho, mas uma aproximação ao mundo real.
JOÃO GOMES GAGO
1991 Lisboa, Portugal
ESTUDOS
2016-18 Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto- Mestrado em Desenho e Técnicas de
Impressão
2014 Ar.co- Projecto Individual
2013-14 University of East London- Bolsa Erasmus, Fine Art
2010-13 Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa- Licenciatura em Desenho
PRÉMIOS E NOMEAÇÕES
2018 – Grande Prémio Bienal Internacional de Arte Jovem de Vila Verde
2017 – Jovens Criadores 2017, na categoria de Artes Visuais
– Concurso Internacional de Desenho, Encontrarte Amares 2017
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS
2018 – Reencenação, Galeria Monumental, Lisboa
2016 – Princípio Expansível, Galeria Monumental, Lisboa
2013 – Se me perguntarem o que vi, Teatro Carlos Alberto, Porto
– Vermelhecer, Plaza Ribeiro Telles, Vila Franca de Xira
EXPOSIÇÕES COLECTIVAS
2018 – Specularis: Look Through, Museu Alberto Sampaio, Guimarães
– 10ª Bienal Internacional de Arte Jovem de Vila Verde, Braga
– GABINETE, Art Fair – Works on Paper & Fine Arts, Madrid, Espanha
– JUSTMAD 9, Feira de Arte Contemporânea, Madrid, Espanha
2017 – Mostra Jovens Criadores 2017, Villa Glória, Mangualde, Viseu
– Berlin-Klondyke im Soeht 7, ehem. Frauengefängnis, Berlim
– Concurso Internacional de Desenho, Encontrarte Amares 2017, Amares
– JUSTMAD 8, Feira de Arte Contemporânea, Madrid, Espanha
– Pequenos Formatos, Galeria Monumental, Lisboa
– Berlin-Klondyke, UGM Studio, Maribor, Eslovénia
– Portfólios, Ap’art Galeria, Porto
– D’ Après Abel Salazar, Casa-Museu Abel Salazar, Porto
2016 – Pequenos Formatos, Galeria Monumental, Lisboa
– 90° à Sombra, Casa das Artes Mário Elias, Mértola
2015 – Pequenos Formatos, Galeria Monumental, Lisboa
– “XS art”, Galeria Maria Lucília Cruz, Lisboa
2013 – Múltiplos de Arte, Galeria Prova de Artista, Lisboa
– Desenhar a Poesia, Biblioteca Municipal José Saramago, Loures
– Nas Margens da Linha, Cine-Teatro Avenida, Sala da Nora, Castelo Branco
2012 – Desafio aos Sentidos, III Exposição de Artes Plásticas, S. Martinho do Porto
– Galerias Abertas das Belas-Artes (G.A.B-A), Faculdade de Belas-Artes da
Universidade de Lisboa
2011 – XVII Bienal Artes Plásticas, Festa do Avante, Lisboa
RESIDENCIAS ARTÍSTICAS
2016 – RésVés, Mértola
Município de Vila Verde, 9.7.2018