Rota das Colheitas: Loureira ensinou a malhar o feijão à moda antiga
Updated on 20/08/2019A freguesia da Loureira voltou a ensinar aos mais novos e recordar aos mais velhos como se desenrola uma tradicional malhada de feijão. Não faltaram os malhos e os engaços de madeira, as vassouras de codesso e os crivos, a animação da música popular e as sopas de cavalo cansado. A iniciativa decorreu durante o final da tarde (19h) de domingo(dia 18 de agosto), inserida na Rota das Colheitas, do Município de Vila Verde, e no Arraial do Emigrante, da Junta de Freguesia da Loureira. Numa verdejante zona de lazer à beira-rio, o Lugar da Ponte Nova acolheu dezenas de pessoas que se juntaram em círculo para reviverem velhos tempos. Convidados pelo apresentador do evento, o presidente da Junta de Freguesia da Loureira, Pedro Dias, e a vereadora da cultura do Município de Vila Verde, Júlia Fernandes, assumiram a dianteira distribuindo as primeiras malhadas. Foram várias as pessoas se seguiram, entre as quais vários elementos do público, e quem ia cedendo o lugar tinha a típica sopa de cavalo cansado à sua espera para recuperar forças.
E foi tudo à moda antiga, garantiu Júlia Pereira, uma das pessoas envolvidas na recriação desta prática agrícola ancestral. O feijão semeado em maio ficava pronto a colher “por esta altura”. Já bem secos, os feijoeiros eram dispostos no chão para a malhada. Os malhos subiam e desciam bem sincronizados, batendo violentamente e quebrando os pés de feijão. De seguida, utilizava-se uma vassoura de codesso ou giesta para separar o feijão das cascas maiores da planta. “Por último, limpava-se bem o feijão nos crivos e estava pronto para cozinhar”, referiu. E quem esteve presente no Lugar da Ponte Nova pôde reviver este processo. No entanto, Júlia Pereira não esconde as saudades das malhadas antigas. “Esta malhada é bastante idêntica às de antigamente, mas não é tão grande, nem tão alegre. Naquela altura, cantava-se muito e havia mais animação. Agora também é alegre, mas pessoalmente acho que antigamente era mais”, afirmou com nostalgia.
Reviver memórias e rever velhos amigos
Além de manter bem acesa a chama da tradição, a malhada do feijão também foi ponto de encontro de velhos amigos. Palavras de João Ramos, natural da Loureira e emigrante na França há 50 anos. “Esta iniciativa acaba por juntar a população da freguesia e os emigrantes que regressam às origens, como é o meu caso, estou na França há 50 anos, e isso permite-me rever velhas caras conhecidas”, disse.
Mesmo quem não foi ao Lugar da Ponte Nova por causa da malhada acabou por ficar a assistir. “Eu vim assistir aos ranchos folclóricos e acabei por ficar para ver a malhada para reviver algumas memórias de infância”, sublinhou Constantino Feio, natural da Loureira. Contudo, para Constantino, “agora isto é diferente, é muito mais cultural e é muito mais para mostrar aos jovens”.
“Cinco dias de festa que terminam em beleza”
A malhada arrancou com dois malhadores convidados pelo apresentador do evento: o presidente da Junta de Freguesia da Loureira, Pedro Dias, e a vereadora da cultura do Município de Vila Verde, Júlia Fernandes. A vontade de participar na iniciativa era imensa e não faltavam voluntários para pegar no malho. “Como se vê, muita gente aderiu à iniciativa e está a malhar”, referiu Pedro Dias, acrescentando que “as pessoas mais velhas conseguem reviver as suas memórias do tempo de infância” e os mais novos podem “perceber e sentir a cultura e tradições que existem na freguesia e no concelho”.
Inserido na programação Na Rota das Colheitas e também no Arraial do Emigrante, o evento teve também como objetivo receber os emigrantes. “Todas as iniciativas do arraial têm como objetivo receber os emigrantes da freguesia, do nosso concelho e concelhos vizinhos. Cinco dias de festa que terminam em beleza graças à malhada do feijão”, afirmou o presidente da Junta.
“Importante para a Loureira e para o concelho”
A importância da Malhada do Feijão foi reforçada pelas palavras da vereadora da cultura do Município de Vila Verde, Júlia Fernandes. “É extremamente importante, porque estamos perante uma recriação de uma malhada à moda antiga”, sublinhou. Para Júlia Fernandes, “a malhada do feijão permite às pessoas não só relembrar, mas também reviver fisicamente estas práticas agrícolas ancestrais”. Ao mesmo tempo, “permite aos mais jovens aprenderem aquilo que se fazia antigamente” e isso é um dos fatores que conferem “tamanha importância, quer para a freguesia da Loureira, quer para o nosso concelho”.
A vereadora da cultura não se limitou a assistir e também malhou o feijão. “Gosto sempre de participar nas malhadas. Faz-nos regressar à infância, quando víamos isto nas eiras dos nossos avós”, revelou Júlia Fernandes.
Município de Vila Verde, 20.08.2019