Rota das Colheitas: Banho de multidão em Oleiros na recriação da Malhada de Tremoços
Updated on 12/08/2019Estocadas vigorosas separam o tremoço da planta seca pelo sol. A animação da música popular toma conta do recinto. A gastronomia regional ajuda a confortar o estômago e a fortalecer o corpo. As vestes, alfaias e métodos tradicionais reforçam o simbolismo do evento. Os saberes e sabores do mundo rural atraíram um mar de gente que chegou às imediações da igreja paroquial da freguesia de Oleiros para reviver a genuína tradição minhota. A Malhada de Tremoços com Sopas de Cavalo Cansado decorreu no passado dia 10 de agosto, foi organizada pela Junta de Freguesia com o apoio de diferentes coletividades locais e integrou o Dia de Oleiros. Está inserida na programação turístico-cultural Na Rota das Colheitas, do Município de Vila Verde.
Começa a cair a noite. As lavradeiras chegam à eira improvisada com os tremoceiros secos à cabeça, acompanhadas pelo som das concertinas. Vêm trajadas a rigor. Saia, blusa e avental à cinta. Socas nos pés e lenços na cabeça. A indumentária ajuda a reforçar o simbolismo do momento, mas é hora de arregaçar as mangas e meter as mãos à obra. Com a parte de trás dos vigorosos engaços de madeira, desferem estocadas violentas sobre os tremoceiros secos e quebradiços que vão libertando o desejado conteúdo. Depois, utiliza-se a peneira para separar as ervas secas dos tremoços. O público mostra-se bastante curioso, vai fazendo perguntas sobre o processo e muitos dos presentes acabam mesmo por pegar no engaço e participar ativamente na recriação.
Os tocadores de concertina e o Rancho Folclórico da Senhora da Pena, de Carreiras S. Miguel, animam o recinto com a alegria contagiante da música popular. De microfone em punho, a presidente da Junta de Freguesia de Oleiros, Carla Leitão, vai explicando aos presentes os moldes em que decorre a prática secular. No final, são distribuídos sacos de tremoços pela plateia e servem-se as tradicionais sopas de cavalo cansado. Vinho, broa caseira e açúcar, uma receita para fortalecer o corpo e animar o espírito. Este ano, a iniciativa integrou as comemorações do Dia de Oleiros, pelo que o público tinha ao dispor várias opções da típica cozinha minhota.
Uma oportunidade de excelência para promover e valorizar a tradição local, atrair visitantes e fortalecer os elos entre a comunidade local. Albertina Araújo ajudou a recriar a tradição e não esconde o entusiasmo. “Participei na apanha dos tremoços, na malhada, nas sopas de cavalo cansado e em todas as atividades que há aqui na freguesia. Gosto muito disto, a tradição não pode acabar”, referiu. Na plateia, Hortência Alves da Silva mantém a toada e reforça a importância da iniciativa. “Adoro esta tradição da freguesia. A noite de hoje está a ser espetacular. A cada ano que venho vejo mais pessoas, o que é muito bom para a freguesia. A tradição não pode acabar”, afirmou.
“O pão dos pobres”
Por sua vez, a presidente da Junta de Freguesia de Oleiros explicou ainda que o cultivo do tremoço era muito comum na localidade e que era duplamente importante para a população. Por um lado, pelo valor alimentar que deu ao tremoço a alcunha de “o pão dos pobres”. Por outro, pela importância para os ciclos agrícolas. “As raízes do tremoceiro têm propriedades únicas muito benéficas para os campos. Após o cultivo do tremoço, os terrenos ficavam mais férteis”, contou a Carla Leitão.
A autarca fez um “balanço muito positivo” do evento, sublinhando que a alteração da data resultou em cheio. A iniciativa passou de agosto para setembro e integrou o Dia de Oleiros. Com a presença dos habitantes locais, muitos emigrantes que regressam este mês a Oleiros para férias e o aumento de visitantes que chegaram de fora, a afluência popular subiu consideravelmente em relação ao ano passado. E o público gostou do que viu. “Havia muita gente a fazer perguntas, a querer conhecer o processo… Muitos também quiseram experimentar e acabaram por pegar nos engaços e participar”, revelou Carla Leitão, sublinhando a importância deste tipo de iniciativas. “As pessoas gostam e ficam felizes. É importante relembrar as tradições e assim reviver o passado. Além disso, estes eventos permitem que as pessoas se encontrem e convivam, reforçando os elos de ligação entre a comunidade”, concluiu.
Municipio de Vila Verde, 12.08.2019