AMBIENTE: I Encontro de Grupos do Projeto Rios do Município de Vila Verde
Updated on 05/02/2018Na sexta-feira dia 3 de fevereiro, o Município de Vila Verde reuniu vários grupos do Projeto Rios do concelho e promoveu a aquisição e partilha de conhecimentos entre os vários grupos, com o apoio da Coordenadora do Projeto Rios, a Dra. Joana Ferreira da Silva. Importa referir que o Projeto Rios é um projeto que visa a conservação dos rios e seus afluentes, incentivando a participação social na conservação destes espaços fluviais, através da formação de um grupo de pessoas que adote, monitorize e implemente ações de melhoria a um troço de 500 metros de um rio ou ribeiro.
Este evento iniciou-se com uma breve intervenção do Sr. Vereador do Ambiente do Município de Vila Verde, Dr. Patrício Araújo, o qual frisou a importância da sociedade civil, que deve estar atenta a esta temática e trabalhar no sentido de preservar, manter e defender os nossos recursos hídricos, para que em conjunto com as entidades públicas possamos cuidar deste bem precioso que temos, a água. Este terminou agradecendo a presença de todos os intervenientes e todo o trabalho que têm feito em prol dos nossos rios e ribeiras.
Em seguida, o Sr. Arquiteto Miguel Portugal apresentou algum do trabalho que tem sido desenvolvido pelo ICNF no que respeita às Zonas Húmidas. Ao longo desta, este referiu as Zonas húmidas, e em particular os ecossistemas ribeirinhos, são muito importantes pois, numa perspetiva ecológica, fomentam a biodiversidade, criam redes e teias alimentares que incluem espécies de animais e plantas associadas a estes sistemas ribeirinhos. Por outro lado também as zonas húmidas nos possibilitam momentos de lazer, e a prática de diversas atividades desportivas, junto à água (pesca, canoagem, etc.).
Por forma a melhorar a qualidade ecológica das zonas húmidas, em particular dos rios e ribeiros, importa preservar galerias ribeirinhas que salvaguardam a conectividade entre ecossistemas, fornecem abrigo e permitem as migrações de animais e a propagação de espécies vegetais e ainda mantem o regime natural dos caudais, incluindo os das cheias, além de funcionarem como filtros de diversos poluentes, melhorando a qualidade da água e de promoverem o controlo climático sobre as linhas de água, regulando a temperatura da água. Importa também preservar estes habitats ao não introduzir espécies exóticas invasoras, pois estas eliminam todas as outras espécies.
Tal como foi referido – “Todas as opiniões qua há sobre a Natureza nunca fizeram crescer uma erva ou nascer uma flor” (Alberto Caeiro) – Portanto, é necessário agir! Promovendo a melhoria da vegetação ribeirinha, através de podas de condução; do controlo de espécies exóticas invasoras e sempre que necessário, da plantação adensando a galeria ripícola, por forma a obter uma galeria mais larga e diversa (diversidade de arbustos e árvores, incluindo amieiros, freixos, loureiros, etc.). Por fim, por forma a evitar a ocorrência de Vilas e cidades afetadas pelo regime natural das cheias, importa não construir nesses locais.
Entretanto a Coordenadora do Projeto Rios, a Dra. Joana Ferreira da Silva, tomou a palavra, felicitando o Município de Vila Verde pela iniciativa pioneira a nível Nacional, à qual já outros Municípios aderiram. Esta explicou que este é um projeto de ciência cidadã com o qual os grupos recolhem dados no campo, para que posteriormente se possa fazer algo para melhorar esse troço, por forma a fomentar a biodiversidade (diversidade de espécies de plantas e animais), melhorar a qualidade da água, etc.. A recolha destas informações é muito importante, uma vez que estes dados ambientais, ainda que não sejam tão rigorosos como os projetos de investigação, possibilitam que os grupos de investigadores possam ter acesso a esses dados e em situações pontuais possam vir a explorar esse local. Também a partilha de resultados entre os vários grupos e com a coordenação do projeto, se torna imprescindível, pois essa troca de experiências permite uma grande aprendizagem entre os diferentes grupos, funcionando também como uma fonte de motivação e de competição pela aquisição de um troço com uma qualidade ambiental e ecológica excelente. Sendo que para que estes obterem uma água com qualidade excelente deverão recolher o maior número possível de macroinvertebrados que indiquem uma qualidade da água excelente, atendendo ao facto destes serem bons indicadores biológicos. Por fim, esta alertou os grupos para a necessidade destes reportarem os problemas que identificam às entidades competentes, Municípios, APA (Agência Portuguesa do Ambiente), GNR-SEPNA (Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente), ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas). Frisando ainda o papel destes na sensibilização da população relativamente à importância da preservação dos ecossistemas ribeirinhos.
Em seguida deu-se a apresentação dos resultados de 5 dos 7 grupos do Projeto Rios do Município de Vila Verde: o Centro Escolar de Prado, o Agrupamento de Escuteiros de Duas Igrejas, a Escola Profissional Amar Terra Verde, a Escola Básica de Moure e Ribeira do Neiva e o Agrupamento de Escuteiros de Prado.
Destas apresentações foi possível verificar uma evolução positiva no que respeita ao troço de 500 metros adotado pelo centro escolar de Prado, estando esta melhoria relacionada com a realização de uma ação de limpeza dinamizada pelo município em parceria com as várias juntas de freguesia atravessadas pela ribeira de Febros, a qual ocorreu em outubro de 2016, o que de facto evidência a importância destas atividades, quando realizadas de forma consciente e seguindo todas a metodologia indicada pela APA. Relativamente a esta atividade os alunos do 3º e 4º ano relataram que “Gostaram de tocar na rã e devolvê-la ao rio”; “Apreciaram a saída de campo” e
“Admiraram a paisagem que vislumbraram da foz – Ponte de Prado”. Segundo a Professora Olívia Rodrigues, a professora responsável por este grupo, nestas atividades estes alunos desenvolvem diversas competências que estão contempladas no novo perfil do aluno, pelo que estas atividades são muito importantes e benéficas, ainda que associada à mesma possam existir algumas limitações/dificuldades. De modo particular este projeto contribuiu positivamente para o desenvolvimento dos alunos no que respeita à “Curiosidade científica”; “Articulação de conhecimentos”; “Intervenção junto da população – famílias na preservação do ambiente”; “Contacto com a natureza”; “Promoção do trabalho de pesquisa e planeamento de atividades”; “Valorização do meio ambiente e da sua preservação”; “Reflexão” “Tomada de consciência e alteração de comportamentos”; “Responsabilidade”; “Cidadania e participação”; “Liberdade” e “Pensamento crítico”.
Já no caso do Agrupamento de Escuteiros de Duas Igrejas se verificou o fenómeno inverso, isto é em Abril de 2017 a água do troço de 1 quilómetro do Rio Neiva adotado apresentava macroinvertebrados que indicavam uma qualidade da água excelente, ao passo que em novembro de 2017 estes indicavam uma boa qualidade da água. Este fenómeno poderá estar associado às intervenções que foram realizadas no leito e margens deste rio no sentido de, erradamente, remover a vegetação ripícola para potenciar a produtividade da prática agrícola, após a ação de limpeza realizada aquando da primeira saída de campo deste grupo, entre outros fatores associados à época do ano, ao local de amostragem, ao método de amostragem, ao seu coletor, etc..
De notar que o grupo da Escola Profissional Amar Terra Verde apresentou os seus resultados referentes à Ribeira de Felgueiras, em Vila Verde, acompanhando os mesmo com a apresentação de um site criado com o objetivo de divulgar o Projeto Rios e o trabalho que estes têm vindo a desenvolver. O site criado por estes grupo de alunos do 1º ano do curso Técnico de Eletrotecnia pode ser consultado em https://ferbeast.wixsite.com/ribeiro-felgueiras. É de salientar a presença de uma salamandra e uma rã ibérica numa das saídas de campo, bem com o a presença de macroinvertebrados muito sensíveis o que indica uma boa qualidade da água nesse local. Sendo que essa situação não se sucede da mesma forma ao longo de todo o troço por eles adotado, uma vez que o mesmo se encontra degradado.
No caso da Escola Básica de Moure e Ribeira do Neiva, através do professor Arlindo Areias, responsável por este grupo, ficamos a conhecer toda a biodiversidade e o património etnográfico existente no troço da ribeira de Febros adotado, com uma extensão de um quilómetro. Sendo que mediante o convite da Junta de freguesia da Lage este grupo pondera aumentar o troço adotado, por forma a englobar um troço que passe nessa freguesia, no qual os alunos provenientes desse local poderão ter o apoio e acompanhamento deste professor e desta escola, através da exploração de pequenos sub-troços.
Este grupo apresentou uma imagem de um ninho de um melro, o qual era constituído essencialmente por plásticos, imagem esta que evidência o grau de poluição deste curso de água no que se refere a este tipo de resíduos, juntamente com outros resíduos, tais como tecidos que se encontravam enrolados nas árvores, outros materiais provenientes de uma empresa que se situa nas margens deste, e ainda os resíduos depositados junto à ponte ou entre a estrada nacional e municipal. Por outro lado, este grupo apresentou uma imagem na qual se conseguia identificar a presença de peixes de grandes dimensões (trutas) e outros macroinvertebrados indicativos de uma água ligeiramente poluída.
Também o Agrupamento de Escuteiros de Prado adotou um quilómetro da Ribeira de Febros, tendo realizado a sua primeira saída de campo em novembro de 2017, no qual tiveram a oportunidade de efetuar todos os registos de campo requeridos. Dos resultados apresentados destacam-se algumas fotografias nas quais era possível verificar a existência de diversas fontes de poluição, particularmente de resíduos sólidos urbanos (alguns dos quais foram colhidos durante esta atividade) e ainda pontualmente algum entulho e resíduos resultantes da poda de plantas, particularmente palmeiras. Neste troço verificou-se também a existência de áreas nas quais a vegetação ripícola é escassa, tendo se também verificado a existência de inúmeros dípteros (larvas de mosquito) e moluscos, os quais são macroinvertebrados que indicam a existência de um rio em mau estado (de moderadamente poluído, a muito poluído). Ainda assim destacou-se a presença de duas espécies distintas de anfíbios resistentes à poluição, a rã-verde e a rã-de-focinho-pontiagudo, as quais os jovens escuteiros tiveram a oportunidade de conhecer e tocar, desmistificando muitos dos medos e receios associados a este grupo de vertebrados. De destacar o compromisso assumido por este grupo o qual refere que como atividades de melhoria irão proceder à limpeza do troço adotado e à sensibilização da população pradense que reside junto às margens deste curso de água, para a importância deste ecossistema.
Importa referir que de forma geral todos os grupos verificaram que aquando da saída de campo efetuada no outono o nível da água do rio estava abaixo do nível habitual para a época, o que evidência os efeitos da seca que ocorreram este ano. Pelo que é cada vez mais importante que passemos a olhar para os recursos hídricos de uma outra forma, responsabilizando-nos pela preservação destes ecossistemas, quer através da educação ambiental da população, quer através da reabilitação dos mesmos, sempre que estes se encontrem degradados, responsabilidade esta assumida por estes grupos (relativamente ao troço por eles adotado).
“Sem água não há habitats, sem água não há vida (… ) para que nós e a natureza possamos usufruir da mãe terra nas melhores condições é necessário preservar este bem precioso que é a água.”
Portanto, contamos convosco para juntos preservarmos os nossos cursos de água.