7ª BIENAL NA ESCOLA – COMO A ARTE AJUDOU MÁRIO A SUPERAR UM TRANSPLANTE PULMONAR!
Updated on 06/04/2019«No futuro, Mário pretende seguir um curso universitário. Ainda não tem um caminho definido, mas… numa vida cheia de dúvidas, ficou uma certeza: foi-se a doença… ficou a arte»
Mário Ferreira tem vinte anos, é natural de Carreiras S. Miguel e frequenta o 1º ano do curso de Design Gráfico da Escola Profissional Amar Terra Verde (EPATV).
Encontra-se, pela segunda vez, a concorrer à Bienal na Escola, uma iniciativa promovida pelo Município de Vila Verde com o objetivo de promover a arte.
Desde cedo demonstrou a sua “veia artística” e o seu talento, raramente, passa despercebido aos olhos de quem o vê.
Conta que, quando era pequeno, «dois, três anos», o pai já lhe trazia marcadores e as paredes de casa foram as suas «primeiras telas» (risos)
Mas a par do especial “dom” de desenhar, também nasceu com ele uma doença crónica pulmonar muito grave.
Mário revela que não percebia porque é que estava constantemente em hospitais e os pais sempre lhe disseram que era uma «coisa passageira», uma «bronquite mais séria», mas que «ia passar».
Não só não passou como se agravou com o decorrer dos anos.
Só em 2010, depois de um internamento devido ao agravamento do seu estado de saúde, é que percebeu a magnitude do problema que sofria. Mário foi crescendo e aprendeu a lidar com uma doença que já mal lhe permitia respirar.
Em 2014 chegou a altura de escolher a área que tinha de seguir. Não foi difícil… a arte era (e é) o caminho.
Foi nesse ano que a Escola Secundária de Vila Verde abriu o curso de Artes Visuais, um objetivo há muito desejado.
Assim como Mário, vários jovens ingressaram no curso, vendo o seu sonho mais “perto” de ser alcançado.
Fez o 10º ano, mas por volta de maio de 2015, a doença começou a evoluir de forma galopante. Abandonou a escola. Ainda tentou fazer aulas por skype, mas a «disposição era pouca ou nenhuma», relata
Mário lembra-se que o médico lhe costumava dizer que a vida dele era como subir uma escada… sempre que ganhava uma infeção… iam ficando cada vez degraus menos para subir. Nesta fase da doença, já só tinha um ou dois “degraus”. A solução era um transplante pulmonar.
Uma vez internado, em isolamento e à espera da sorte, a única distração que Mário tinha… era desenhar.
Passava o tempo entre “riscos e sarrabiscos” e até foi no hospital que descobriu que gostava de pintar. «uma enfermeira disse-me que tinha jeito e, desde então, também pinto.», lembra
O jovem confessa que a arte foi a sua grande escapatória. «Estar em internamento tanto tempo não é nada fácil… até porque eu não tinha grandes perspetivas de cura caso o transplante não acontecesse. Quando desenhava sentia-me ocupado, prestável… era como se tivesse uma vida normal.»
16 de setembro de 2016. Era o dia. Depois de vários meses entre Braga e Lisboa, Mário foi, finalmente, transplantado. A operação foi um sucesso e ele “rapidamente” voltou para casa.
Nos meses de recuperação que se seguiram, Mário já só conseguia pensar numa coisa… voltar para a escola.
Após tanto tempo sem estudar, «começar de novo» pareceu-lhe a melhor solução.
Chegou a frequentar um curso de programação na Escola Profissional Amar Terra Verde, mas depressa percebeu que não era o caminho. A vocação “falou mais alto”.
Descobriu que ia abrir o curso de Design Gráfico, também na EPATV, e desde aí… vive o sonho.
Mário confessa que gosta da «liberdade que desenhar lhe traz».
«Muitas vezes vou a caminhar, ou estou em casa a olhar para a janela e simplesmente pego no meu caderno e… desenho.» revela
«Faço muitas vezes retratos de pessoas que me pedem e cobro dez euros, porque ainda estou a começar e é o que a maior parte pode pagar, mas o que gosto mesmo é de desenhar o que me vai na alma.», confidencia
A doença já não faz parte da vida dele, mas tem de ser acompanhado regularmente no hospital. É nas salas de espera que, muitas vezes, lhe surge a inspiração.
No futuro, Mário pretende seguir um curso universitário. Ainda não tem um caminho definido, mas… numa vida cheia de dúvidas, ficou uma certeza: foi-se a doença… ficou a arte.
Em breve teremos oportunidade de observar a obra que o jovem preparou para a 7ª edição da Bienal na Escola, a qual, Mário, considera uma «excelente forma de divulgar o talento escondido» de tantos estudantes como ele.
Município de Vila Verde, 6.4.2019